quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Seno ou Co-seno

Este vai ser dos compridos.
A última vez que dei notícias foi há uma semana atrás. O que me acontecera ao ombro, o grave que parecera e tudo aí associado. Afinal não fora assim tão grave, afinal já consigo mexer o braço com facilidade apesar de ainda não ter muita força. Ganhei um valente susto e uma belíssima história para contar. Isto digo-o hoje, aliviado, mas na altura não escondo que me senti derrotado. Derrotado pelo "destino", pelo azar. Então, venho fazer um prometedor Erasmus e só me acontecem desventuras?! Má sorte com as disciplinas a princípio, o ombro e agora há mais uns capítulos.. ( já lá vamos). Quando a recuperar do acidente, a motivação decresceu um pouco. Lutava contra este facto mas facto é que nem sempre foi fácil. O André percebeu isto e foi importante: quebrar a rotina e beber umas cervejas a meio da semana, fazer projectos de viagens, etc.
Na minha cabeça era obrigatório gostar, adorar, vibrar com a experiência de Erasmus. Confesso: não fui sincero comigo nem com quem falava, tentava enganar a consciência e quem a rodeasse. Não estava a ser fácil.
À medida que fui ficando melhor, aliviado, a palidez desaparecia. sentia-me rejuvenescido, sem razões para pesos. estava tudo em ordem: umas festas, uns convívios, um projecto na faculdade. apetecia-me, contudo, sair da cidade, falar português com outras pessoas, intelectualizar e ouvir novas histórias. Rapidamente marquei um voo para Paris. esperam-me lá 5 mais que colegas da faculdade com "intrigas" recentes. o fim-de-semana de 4 a 8 de Dezembro ia ser refrescante!! resumindo: a má época tinha passado. a época do "fado" tinha-se ido embora para longe e agora era sempre a subir. ou não..
a meio da semana estava eu na internet e de repente... "verifique se está ligado à rede". desliguei o PC, voltei a ligar PC. mais do mesmo: nada. Indignado com a situação esperei e sempre o resultado menos esperado: vazio. Fui rapidamente ao Hausmeister (o Sr. que trata da residência) e por sorte ainda lá estava. perguntei-lhe o que se passava e sorriu para mim dizendo "ainda n pagaste o mes de Novembro". não percebia porque, era por transferência e automática e eu tinha dinheiro na conta.. vim a perceber depois que não tinha o suficiente: para alem da mensalidade, a instalação da internet, a mensalidade da internet, e o que faltava da 1a prestação. Não explicam, não adivinho. Parece que aqui os funcionários existem para dificultar a vida às pessoas e não para facilitar.. algo que me transcende. já estávamos bem dentro da 2a semana de Novembro e ninguém teve a boa vontade de me avisar. fiquei sem Net, e com uma conta avulsa para pagar. de imediato fui ao banco, depositar dinheiro e fazer o pagamento (sempre com mil papeis pelo caminho) e qual não é o meu espanto quando pouco depois já tinha "ligação à rede". boa!
Nesse mesmo dia fui à lojinha portuguesa comprar vinho tinto e vinho do porto. Tinha-me comprometido para na 6a vindoura oferecer vinho e queijo e um dos residentes da terra ofereceu-se para o jantar. Foi um convívio engraçado. a conversa fluía como uma torneira a principio mas c 2 garrafas de vinho por cima já parecia um rio. com 4 garrafas era uma barragem aberta. foi animado e finalmente consegui mobilizar os introvertidos do meu piso. referência para o indonésio que bebeu2 copos de vinho e retirou-se (na indonésia é proibido qualquer tipo de álcool e tudo aquilo era novo para o rapaz). Para os alemães jantar significa literalmente jantar, não inclui a parte seguinte que é o tradicional "Café" e como tal, em seguida fui ter c o André. Descobrimos uma discoteca à onda Coyote Bar. no meio de mil brindes que ganhamos numa banca (quais portugueses que somos), no meio de danças em cima do balcão com as raparigas do bar, de várias outras aventuras saímos em grande estilo (uma lólózisse descomunal, depois conto a quem quiser) e fomos cada um para seu lado, já era tarde. Legen..dary! ainda não a 100% do braço mas a uns bons 70% a vida sorria.
Sábado fez-se em passeios e convívios e a noite passou-se entre brasileiros. Um deles fez anos e deu uma tradicional festa da cozinha mas qual foi o meu espanto: não foi uma como as outras. Dava efectivamente para estar a conversa a olhar para a outra pessoa a uma distância de segurança, ou seja, havia luz, espaço e a música não estava aos berros. Um sublime sereno serão. Acontece que havia uma pequena palavra, com um grande significado, que não me saía da cabeça: PROJECTO! Dois dias depois tinha entrega e não tinha maquete nem se quer um projecto viável. Esperava-me um domingo de trabalho intensivo e de facto veio-se a verificar. Uma maquete feita em tempo recorde e uns rabiscos de qualidade duvidosa. Tinha que despachar o máximo para na 2ª não me deitar muito tarde pois ainda tinha que testemunhar mais uma épica aula de “Portas”! No aborrecimento que foram então essas 3 horas, a falar do mais óbvio e a discutir o mais impensável, desde idoor, ate ao puxador que permite fazer torradas, soltou-se uma informação perigosa: Workshop obrigatório de 3 a 6 de Dezembro. Isto coincidia com a minha viagem a Paris, a tão importante viagem para a minha sanidade mental. Seguiram-se momentos de irritação, desespero, dúvidas morais, etc. e tal. Que fazer? Ir a Paris e não fazer a disciplina? Perder o dinheiro do voo e fazer a disciplina? Não é fácil e ainda hoje não tenho resposta mas penso que vou a Paris e vou tentar inscrever-me noutra disciplina qualquer, mesmo que menos valiosa, para o prejuízo não ser tão grande. Para os mais cépticos: a vitória é vossa, não aguento intelectualizar sobre portas!
Voltava para casa (ou melhor, para o quarto) frustrado com mais este azar! Porque?! Culpava os anjos, pesava-me a consciência, apetecia-me expelir a raiva e contaminar quem ao meu lado com a vibração da minha garganta. Que me saíssem as veias, que se fosse embora o abatimento, que algo acontecesse, desesperadamente! Pedi ajuda a quem se afigurava lúcido perante esta situação mas sabia que a decisão final era minha. É minha. Vai ser minha.
Isto tudo aconteceu mas lá estava aquele tambor, sempre atrás do ouvido: Projecto! A perspectiva de uma noitada a fazer mais maquetes e mais esquissos de fraca qualidade também não me entusiasmava. O tempo foi passando. O trabalho foi nascendo. Deitei-me pouco antes das 4 da manhã. “noitadas de projecto em erasmus?! Estou doente..”
Na manha seguinte era altura de apresentações. No meio de bastantes projectos lá estava o meu, humilde, consciente de si e do seu reduzido empenho por parte de quem o fizera Mas quando olhava para o lado, rejubilava, saía das cinzas e apresentava-se de peito cheio, confiante. Não se julgava melhor que os outros mas afinal teve mais horas nele investido que os restantes. Contextualizado, o meu projecto foi (e é) claramente dos melhores. Não percebo a falta de sensibilidade dos “nativos” para o tema: eu cheguei a ver aberrações!!!
A apresentação correu pelo melhor. O professor falava a mil e eu com ar de chinês acenava que sim. Os assistentes depois de perceberem que nada tinha percebido remataram com “ele esta a dizer bem. E é muito bom isso!”. Ouvi mais um ou outro elogio por parte dos futuros senhores da arquitectura alemã e com isso ganhei o dia. Vim para casa dormir uma vez que tinha tido umas míseras 3 horas e meia de sono na véspera.
Hoje acordei tarde e a más horas! Tive ortopedista que me deu luz verde para me aventurar no rugby desde q com cuidado mas acho melhor só investir nisto outra vez quando não tiver mais dores!! A ideia era depois do médico fazer um trabalho de grupo mas isso não se veio a realizar. Vim para casa cozinhar, escrever este post gigante e sem fotografias e dizer:

Até já, o sereno relatador

6 comentários:

André Doria disse...

Ganda Mike, so te digo isto - coyote rules! ;) Fiquei cheio de vontade de rever o filme...

-Andre

João Silveira disse...

já somos dois!

francesco disse...

No caso do grilo falante falar mais alto, já sabes! Seis portugueses - em altura de exames, mas sempre animados - têm casa, cama e roupa suja para te receber. Em Roma, claro!

Grande abraço

BMe disse...

:)

Anónimo disse...

"ah e tal, ninguém vai ler as minhas aventuras em textos enormes!" - Olha, afinal há pelo menos 4 pessoas para além de mim (e de ti que escreves) sem mais nada para fazer!

Um beijinho ò migueli

João Maria Corrêa Monteiro disse...

olha que simpatico! o meu blogue aparece no teu...! isso e realmente castico! adicionar-te-ei pois! ta muita bom!
ps: a sede da leonardo e brutal!
ps2: tou a escrever num teclado com caracteres arabes e que! nao desvendo os acentos...!