sábado, 31 de janeiro de 2009

Berlim

Foram 4 dias cheios de cultura, admiração, nostalgia. Parar seria perder e ninguém quer isso, muito menos com tanto para ganhar. Esgotante a nível físico mas revigorante para a cabeça. Uns dias vitoriosos. Rendi-me.
Comecei com um passeio guiado pelos arredores do centro. Perceber a razão de determinados edifícios, perceber também o que se passa a nível emocional dos berlinenses que no meio de tantos anos de vida, sempre foram o ponto de rendevouz do mundo, normalmente por razoes não boas, quer fossem quentes ou frias. A cruz deles é a história e vivem num sentimento de culpa muito oficial com uma vontade de apagar todas as marcas antigas: encontram-se pedidos de perdão à Humanidade em muitas esquinas (p. ex. Museu dos Judeus, Reichtag, etc.) mas existe a vontade de apagar todos os vazios não só por ser espaço desperdiçado mas porque faz lembrar o sofrimento das guerras várias. Um dos espaços abandonados mais agressivos que encontrei, está mesmo perto do Memorial do Judeu: o sitio onde Hitler morreu. Este vazio é usado como parque de estacionamento enlameado, na tentativa de, calculo eu, fazer tábua rasa através do uso quotidiano para algo menor. Existe um bunker por baixo, existe O bunker por baixo, destruído, tal como muito.
Depois da história, segue-se a arquitectura e a descoberta de mais interesses menos turísticos da cidade. Ir a SchlesichesTor dizer Bonjour Tristesse ao edifício do Siza. Uma linha tão suave que emociona, chegando mesmo, aliando à cor, a trazer tristeza. Seguir para o agressivo Museu do Judeu do Libskind: uma aparência imponente, cheia de “qualidades” mas entrado fica o vácuo, a desilusão. É vendido como singular, claramente um preço exagerado: tristemente pobre. Para levantar a moral, tinha em mente ir à NeuenNationalgalerie da referência Van der Rohe mas para lá chegar passei por PotsdamerPlatz: a exuberância e algum exaltamento na construção fizeram daquele espaço encolhido uma festa de sabores. Contudo, toda a gente sabe que há certos sabores que não ficam bem juntos. Extasiante mas cansativíssimo. Ainda com a galeria do Mies em mente, passei pela Opera do Scharoun, um perfeito exemplo de harmonia com formas e cores estranhas. Consegui, por fim, chegar à NeuenNationalgalerie. Posso ser suspeito pois o arquitecto em questão é uma das minhas principais referências mas se há pouco falávamos de emoções, sabores e harmonias, aqui falamos de utopia! A forma simples, a construção básica, os materiais de sempre, a linguagem intemporal, um resultado esmagador. Cada vez mais me rendo à delicadeza e à força de cada gesto.
Nas aulas de história de arquitectura aprendemos sobre determinados autores e suas obras. Discutimos sobre elas, também, nas aulas de projecto. São edifícios inacessíveis de arquitectos elevados a sobre-humanos. Ia à procura disto, de encontrar mais especiarias que contribuíssem. Começámos por encontrar a fábrica da AEG de Peter Behrens. Foi um dos momentos altos do dia: andávamos à procura e de repente tropeçamos no próprio. Não é nada como nas fotografias das aulas, é muito mais imponente, mais presente mas não é convencido. Depois de contemplações atacamos a Unidade de Habitação. A caminho passamos pelo Estádio Olímpico. De construção Nazi para os jogos olímpicos, o estádio ainda hoje em dia é usado e apresenta-se firme, bem forte. Com a obra de Corbusier ao longe, fomos cheios de vontade para, por fim, perceber a singularidade daqueles edifícios. Entramos, subimos as escadas e fomo-nos apropriando de cada pormenor. Grande cuidado com os puxadores, caixas de correio, luzes, campainhas. Tudo até ao ínfimo pormenor. Depois de insistirmos com algumas pessoas, lá conseguimos entrar em casa de um senhor, também arquitecto, que percebeu a nossa ânsia. A proporção das células de habitação é tão boa que com um espaço tão reduzido, se vive na maior das boas disposições. A única reticência vai para os corredores interiores. Estes aliados às paredes brancas e aos linóleos cinzentos fazem lembrar os hospitais, portanto não muito confortáveis. Para concluir o dia ainda investimos em visitar a biblioteca do Sir Norman Foster mas quando lá chegamos, nem uma luz acesa. Tinha fechado meia hora antes.

Quase no fim ainda houve tempo para investigar o Niemeyer, o Gropius, o Aalto em mais um bairro modernista. De indispensável, faltava-me conhecer a cultura underground. Descobrir a feira do muro, o Tacheles. O sítio do contrabando e o sítio da arte ilegal. Conclui com um belíssimo passeio por uns bairros berlinenses e com uma óptima conversa. Muito obrigado Joana pela estadia e pela companhia!


Berlim? Para voltar!
Next Stop: Frankfurt
Até já

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