sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Estranha forma de vida

dia 21 cheguei a Lisboa. Já no avião sentia uma estranha forma de pertença: a cidade vista do ar, o sol quente de inverno, a língua falada pelos outros emigrantes. Aquecia-me o corpo, despertava-me os sentidos adormecidos, anestesiados. Aterrado, começaram os encontros: irmãos, pais, o caos da 2ª circular, os imponentes "Condes de Barcelona", o mal abrinte portão, a sombreante palmeira, a pesada porta, o derradeiro quadro da entrada. Confuso mas simpaticamente em casa, fui assentando os pés no chão.
No dia seguinte, a ânsia de me encher do que me faltava era maior que eu. Apanhei o mesmo comboio de sempre para Lisboa. Desfrutar do mar, do farol ao longe, da velhinha ponte sobre o querido Tejo. Cafés aromáticos pela Baixa, reencontrar o meu velho amigo D. Carlos, o polido Fernando Pessoa, o forte Posnard, o real D. Pedro IV e sua D. Maria II. Jantar no Bairro Alto, matar saudades das fieis cortesãs SuperBock e Febras, mas nunca sem antes pedir a devida permissão ao sábio Carmo. Para sobremesa explorámos Alfama. Cumprimentei Apolónia, a Santa, e disse olá, Deus que os guarde, ao Garrett, ao Junqueiro ou à Amália. Acabei a noite em beijos e confissões à pequena casa, num abraço apertado, numa entrega ao Fado.

Depois de todos os vários reencontros familiares (no lato sentido), começava o frenesim natalicio. Celebrações com jantares, festas, ceias. Contar todas as aventuras vezes sem conta. Quase já saiam como lenga-lenga mas cada vez que perguntavam, evidenciavam interesse e consequentemente isso confortava-me. Não se passaram só três meses iguais a mais, vi que para outras pessoas estes três meses correram, mesmo, sem mim, com a devida falta.
Como escrevi no ultimo post, tinha algum receio de ter a imagem errada de alguma realidade e de ser apanhado desprevenido no reencontro. Aconteceu mas estranhamente quase só encontrei evoluções boas (alguns cabelos brancos a mais ou alguma falta dos mesmos). Estranhamente, uma das imagens erradas que tinha era a minha. Sou o terceiro a fazer erasmus e assisti às consequencias do mesmo nos outros dois. Noção de independência bastante apurada, para o bom e para o mal. Esquecer que se vive em comunidade é um risco presente e, como óbvio, não fugi à regra e esqueci-me. Tomar decisões por mim sem dar a conhecer (não por mal mas por despreendimento) foi algo vulgar. Por vezes é desagradável mas tambem não escondo que foi saboroso perceber que já confiam em mim como não confiavam. Passou pouco tempo desde que vim para Estugarda (e agora falta ainda menos para voltar definitivamente) mas, para ser franco, acho que a minha imagem já foi alterada.

De volta ao jogo, foi curioso chegar ao mesmo aeroporto que da última vez e já conhecer os cantos à casa. Que comboio apanhar e onde trocar, onde pisar para nao escorregar no gelo e mais ainda. Custou-me um pouco vir pois, sinceramente, acho que ja aprendi tudo o que tinha a aprender nesta aventura Erasmus e a faculdade não entusiasma nem um pouco. Não vim contrariado mas a motivação não foi a mesma. Não conto os dias até ao fim mas percebo que já passou mais de metade e a noção de que isto é uma experiência que fica gravada entusiasma-me.

Ainda a saga ombro: Fui a O fisioterapeuta e chegou a uma conclusão: Estraguei a articulação entre a omoplata e a clavícula. O alto que sinto é este último osso fora do sitio e não há nada a fazer, apenas melhorar a postura pois... se a clavicula nao vai até a omoplata, entao a omoplata vai até à clavícula. Agora ando parece que engoli um garfo. maravilha

longinquo até já

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